domingo, 3 de janeiro de 2016

AS DUAS IRMÃS



O dia estava apenas começando. Os primeiros raios de sol destacavam as nuvens levadas pelo vento e os desenhos feitos pelas sombras na terra árida pareciam camuflar o orvalho sobre a vegetação seca, que aos poucos ia sendo lambido pelo calor matinal. Ao amanhecer, a natureza revela uma paisagem impactante.  Uma beleza ainda selvagem...

 Aquele miserável casebre, cujas paredes de barro, estava enfestado de percevejos, barbeiros, pulgas, tudo que foce imundice. Não sei como aquelas criaturas conseguiam tirar um cochilo. Alem do mais, a tarimba, cujos ossos descansava-na, desassossegava o sono das infelizes; as varas enterravam-se em suas costelas. O colchão cheio de palha de milho sobre a tarimba, tinha mais utilidade às pulgas, aos percevejos a elas, visto que todos os dias acordavam com o corpo moído. 
    As duas, sentadas a beira da fogueira no meio da casa, bordavam uma peça do enxoval; tinham a consciência de que jamais se casariam, visto que ambas havia assim determinado seu destino. O silêncio que regia entre as moças era quebrado de quando em quando por um suspirar melancólico que saía das entranhas da alma. Na  cabeça um pensamento:
_Eles não vieram como nos prometeram...

    No dia seguinte as duas moças levantaram-se com as galinhas; enquanto uma cuidava do desejum a outra fora ao monturo para sondar se por lá havia algumas pegadas. Lá pela  madrugada elas haviam ouvido paços rondando a casa... Na primeira hipótese, pensaram que fossem os pais, já falecidos. Na segunda hipótese, pensaram que, quem sabe um mal- "fazejo". O certo é que ouviram paços rondando a casa; quem quer que rondava chegou perto da janela do quarto onde as moças dormiam.

    _hem Dala, você viu algum rasto no terreiro?
   _Sim!
   _Não disse! Bem que'eu falei que tinha alguém lá fora. Desde que eles se foram tenho a impressão que alguém ronda a casa, só queria saber quem é...
    _Vai ver que são eles!
    _Não! Creio que não...
    _Como não? Afinal eles prometeram-nos que voltariam...
    _Não pode ser...
    _O que diz das pegadas?

    _ Se fosse eles não haveria nenhuma pegada, não acha?
   _É!! Mas, então?
    _Tudo indica que as pegadas é de um homem, pois trata-se de uma pegada grande; só não sei de quem é.
    _Os meninos de Olávio andam meio desaparecido!
   _É!! Eles não arredavam daqui .
    _Os de Tião nem se fala! Retrucou Bazu.
    _Os de Faustinos são outros...
   _É verdade, faz é "hera" que não aparecem por aqui...
   _É por causa da lida Dala! Vai ver que daqui há pouco eles aparecem.
    _É!!
   Concordou Idalina conformada.
   Desde que os pais morreram aquelas duas irmãs ficaram na humilde casa materna, sozinha e Deus! Os doze irmãos que ficaram só os que moravam por perto é que vinham "cuidando" das órfãs. Um sobrinho das moças (um dos filhos de Olávio), rapaz solteirão, é que costumava ir dormir com "as meninas"_assim como eram chamadas, e quando não podia dormir, na calada da noite, ele  vinha sondar se estaria tudo bem com elas. Pensando que já pudesse está dormindo o rapaz vinha espiar pela janela do quarto se certificando  se as tias estavam bem. Vendo que elas dormiam os sonos dos justos ele retornava sem se fazer notar-si.

    As duas moças puseram na cabeça que um casal de pombas que vinham, todos os dias, religiosamente, pousarem na trava do alpendre, ficando por algum tempo, sempre no mesmo horário _quando o sol repousava no horizonte, que eram seus pais já falecidos; as tais pombas ficavam um pouco e depois voavam  para o mato, sumindo-se de suas vistas. Elas acreditavam que as pombas fossem, de fato, os seus pais já falecidos, que vinham proteger-las conforme prometeram que viriam em quanto elas não se casassem. Ocorreu que, já alguns meses as pombas citadas, havia interrompido suas visitas rotineiras; vinham agora de quando em quando, e quando apareciam não demoravam como antes _quando as moças ainda choravam a partida dos pais. À medida que o pranto das moças cessava as visitas das pombas, também, diminuíam até que finalmente as órfãs não choravam mais. Brasilina (Basu) e Idalina (Dala) já se conformavam com a morte de seus pais e tocava suas vidas na trivialidade; entretanto, sem aquelas visitas diariamente das pombinhas as duas irmãs entristeciam-se novamente, estavam acostumadas com aquelas visitas que já duravam anos (mais de três  anos...). Na terceira semana que as pombas não vinham uma das moças sonhou que seus pais vieram avisar-lhes que não viriam mais, e que elas não ficassem tristes... Desde então, as tais pombas, nunca mais voltaram.


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